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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Primeira fuga...

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
Guimarães Rosa

Encontro-me então, em teórico período de férias, almejando um refúgio. Refúgio do cansaço de todos os dias, das horas de sono reduzidas, da falta de tempo para tudo e todos, da fome momentânea, das manhãs reduzidas, das noites vazias, das dores físicas que passeiam pelo meu corpo e, principalmente, das dores psicológicas que todos esses fatores causam. Enfim, procuro um refúgio de todo o estresse costumeiro com que esse novo emprego me presenteou.

Tudo começou com uma ótima proposta, ainda no início do ano. À ela seguiu-se, dentro de mim, a euforia, a ambição, o entusiasmo, a objetividade e, sem tardar, a impossibilidade exposta pelo empregador: "Sem a dispensa militar, o jornal não te contrata". Respeitando à exacerbada burocracia, tive que aguardar até julho para me apresentar à junta militar e ser descartado pelas Armas.

Durante o período de espera, um semestre universitário se foi (o primeiro deles), período em que as tantas mudanças que sofri dariam material para um texto a parte (quem sabe, um dia, tal texto ganhe forma); dentre tais mudanças destaco uma de particular importância para a compreenção da repúdia pelo trabalho: o que antes era euforia, transformou-se em medo.

O curso que escolhi mostrou-se com um grau de cobrança superior às minhas expectativas, um volume interminável de atividades e bem propício a desenvolver estados de nervo/estresse nos alunos (o que não diminuiu meu prazer em cursá-lo, vale ressaltar). O espectro de ter que conciliar emprego e faculdade passou a me assombrar de forma significativa; assombro que foi impulsionado pela pressão exercida pela família para a execução de ambas as tarefas.

Chegaram então a exposição de minhas vontades, as conversas que evoluíram para discussões, depois brigas. A carência veio observar tudo isso e, logo, o isolamento também queria participar desse show, acompanhado, é claro, pelo choro. Ah, e como esse choro era grande... Tão grande que ainda hoje o sinto marcar presença.

A conseqüência maior foi que, com todo esse aperto, não tive coragem de sustentar meus ideais e cedi. Abandonei as leituras lúdicas que havia selecionado para as férias, abandonei as muitas horas de conversas com amigos distantes pela internet, abandonei os diversos programas e comemorações de amigos próximos, abandonei a lista de filmes que planejava assistir, abandonei tudo aquilo que um estudante de férias deseja fazer para se divertir; peguei uma caneta, papel, dois ônibus diários e fui à labuta.

Os efeitos de tal ato já foram expostos no início desse texto. Acrescento apenas que, nesse momento em que a vida esfriou, apertou e desinquietou, a coragem faltou. Executei o serviço a mim designado da melhor forma possível, pois simplesmente não suporto ser taxado como incapaz; e o sofrimento continuou.

Foi em uma tarde de choro flagrado, então, que minha família percebeu (contra a vontade dos mesmos) a veracidade presente naquilo que eu afirmava desde o início: a grande carga horária do emprego seria um empecilho determinante no andamento do curso e, conseqüentemente, na vida profissional que pretendo seguir. Foi a vez deles cederem. Nesse dia, ouvi sair da boca do patriarca que, dadas as circunstâncias, seria melhor pedir para sair do emprego.

Um feixe de felicidade veio permear esse aspecto familiar. Mais uma vez, entretanto, faltou coragem. Como anunciar minha saída ao empregador que, com tanta boa vontade, se esforçou para me dar essa oportunidade? Foi nessa covardia que permaneci trabalhando mais algumas semanas, me esquivando da obrigação de anunciar minha desistência e carregando o embrulho de sentimentos embaralhados que a vida corrida me ofertou.

Permaneci envolto na falta de coragem até o dia em que a consciência da necessidade de declarar logo minha saída me atingiu de súbito. Expus minha decisão ao chefe, encontrando uma reação mais positiva do que a imaginada (estranhamente, isso ocorre com bastante freqüencia em minha vida). Atualmente, permaneço no emprego, esperando a chegada de um substituto e a chegada do aquecimento, afrouxamento e sossego da vida. Lamento a perda das férias e, paradoxalmente, não vejo a hora de voltar à mais um semestre de exaustão estudantil pois, pelo visto, esse semestre promete! E só.

Abraços do Cipreste.


PS: Devido ao trabalho, tive que interromper a escrita desse texto diversas vezes, daí tamanha demora e possível falta de conexão entre idéias. Desculpem-me qualquer falha.